sábado, 28 de agosto de 2010

Os Sons da Floresta


No século II depois de Cristo, o rei Ts’ao mandou seu filho, o príncipe T’ai, ir estudar no templo com o grande mestre Pan Ku. O objetivo era preparar o príncipe para suceder o pai no trono e ser um grande administrador.

Quando o príncipe chegou ao tempo, o Mestre Pan Ku logo o mandou sozinho à floresta de Mingli. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever os sons da floresta. Passado o prazo,T’ai retornou e Pan Ku lhe pediu para descrever os sons de tudo aquilo que tinha conseguido ouvir.

Mestre, disse o príncipe, pude ouvir o canto dos cucos, o roçar das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo suave na grama, o zumbido das abelhas, e o barulho do vento cortando os céus.

Quando T’ai terminou, o mestre mandou-o de volta à floresta para ouvir tudo mais que fosse possível. T’ai ficou intrigado com a ordem do mestre. Ele já não havia feito o suficiente?

Por longos dias e noites, o príncipe se sentou sozinho na floresta, ouvindo. Não conseguiu distinguir nada de novo, além daqueles sons já mencionados ao mestre Pan Ku.

Mas persistiu. Então, certa manhã, sentado entre as árvores da floresta, começou a discernir sons muito sutis, diferentes de todos que ouvira antes. Ele agora, não só ouvia, mas escutava.

Quanto mais atenção prestava, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz, que pensou:

- Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu escutasse!

Sem pressa, o príncipe passou horas ali, ouvindo e escutando, pacientemente. Queria ter a certeza de que estava no caminho certo.

- Quando T’ai retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais tinha conseguido escutar:

“Mestre, quando prestei mais atenção, pude ouvir o inaudível – o som das flores se abrindo, do sol aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da manhã”.

O mestre acenou com a cabeça em sinal de aprovação:

- “Ouvir o inaudível é ter disciplina para se tornar um grande administrador”, observou Pan Ku. “Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, um administrador pode inspirar confiança a seu povo, entender o que está errado e atender às reais necessidades dos cidadãos. A morte de um país começa quando os líderes ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem mergulhar fundo na alma das pessoas para ouvir seus sentimentos, desejos e suas reais opiniões”.

Foi assim que T’ai se tornou um sábio e afetuoso rei.

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