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terça-feira, 24 de agosto de 2010
HISTÓRIA DA CACHAÇA
Os antigos egípcios deram o primeiro sinal. Curavam suas moléstias inalando vapor de líquidos fermentados. Os primeiros a destilar uma bebida foram os chineses. Já os gregos tomaram a dianteira e registraram o processo de obtenção da "acqua ardens", entre 23 e 79 dC, batizada por Plínio, o Velho, de alkuru. Suas propriedades transformaram a água ardente, que pegava fogo, em água da vida, por suas características medicinais. A "Eau de Vie" foi receitada como elixir da longevidade
Com a expansão do Império Romano, a aguardente invadiu territórios e aprimorou sua tecnologia de produção. Na Itália, o destilado de uva ficou conhecido como "grappa". A partir da cereja, a Alemanha desenvolveu o "kirch". A Escócia fez o uísque da cevada maltada, a Rússia destilou o cereal para obter a vodca, e do arroz veio o saquê japonês. Em Portugal, a "bagaceira" era produzida com o bagaço da uva.
A cana de açúcar chegou ao Brasil trazida da Ilha da madeira pelos portugueses, ainda no séc. XVII. No engenho de Martin Afonso de Souza, da capitania de São Vicente, logo descobriram o vinho da cana, conhecido como "garapa azeda", líquido restante dos tachos de rapadura, que servia de alimento para os animais. Os escravos passaram a tomar esta bebida, inicialmente apenas fermentada. Foram eles também que começaram a destilar a mistura, então chamada "cagaça". Semanticamente, de cagaça a cachaça foi um pulo e a nova bebida se transformou em moeda corrente para a compra de escravos na África. A produção de cachaça artesanal prosperou, inicialmente, no litoral sul do Rio de Janeiro. A descoberta de ouro nas Minas Gerais trouxe uma infinidade de aventureiros de todas as partes do país. Para aquecer as frias noites em meio às montanhas da Serra do Espinhaço, só mesmo o destilado de alto teor alcoólico. Isso incomodou a Coroa portuguesa, pois a cachaça roubava mercado do vinho do Porto e da bagaceira. Alegando que a bebida prejudicava a extração de ouro nas minas, a Corte proibiu várias vezes a produção e comercialização da cachaça. Não funcionou e acabou por cobrar uma alta tributação da bebida mais consumida no estado. A aguardente transformou-se, então, em símbolo da resistência a Portugal. As técnicas de produção se aprimoraram, mas MG se manteve fiel às tradições. Não abre mão, por exemplo, do alambique de cobre. A flora local também colaborou para o desenvolvimento das técnicas de envelhecimento na madeira, o que sofistica o produto.
No entanto, era preciso melhorar a qualidade do produto e foi em Salinas no norte do Estado, que um pequeno fazendeiro, chamado Anísio Santiago, introduziu a técnica de separar, durante a destilação, a cachaça em três frações. Somente a do meio, chamada de coração, considerada nobre, passou a ser envelhecida e comercializada. Porém, até há pouco tempo, a cachaça era uma bebida encontrada somente em "botecos", sem controle de qualidade e consumida por classes menos favorecidas. Talvez o descaso com a cachaça tenha sido pela sua origem "pouco nobre" na visão de colonialistas e escravocratas, assim como aconteceu com a feijoada, pois ambos constituíam comida e bebida típicos de escravos. Somente em 1988, um grupo de produtores, em parceria com universidades e com o Instituto de Desenvolvimento do Estado de MG, (INDI) criou a Associação dos Produtores de Aguardente de Qualidade (AMPAQ). Desde então, a Associação estabeleceu normas de fabricação, ministrando cursos e palestras; criou, igualmente, um selo de qualidade, o primeiro para bebidas alcoólicas do país.
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